Desbloqueie a sua criatividade com o Design Thinking e tenha um Projeto Uau!

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Dany Dhen

educadora, designer e bailarina

13 min de leitura

A pandemia do coronavírus – covid-19, criou um cenário de imprevisibilidade, rompendo tendências e planos e alterando as rotinas e o comportamento das 7 bilhões de pessoas espalhadas pelo planeta.

Ao pesquisar no google “coronavírus” aparecem mais de 3 trilhões de resultados – um eco que há 6 meses ressoa nas mídias, nas conversas entre as pessoas nas redes sociais e dentro de nossas casas, com nossos familiares.

As pessoas, então, se recorrem às tecnologias de comunicação e informação, como alento, sendo um canal multifuncional que serviu de aprendizado, comunicação, nova forma de trabalho (para a maioria) e lazer. Isso tudo já nos era possível mas experienciar uma transformação forçada, ressignificou muitos conceitos essenciais – de família, amizade, saúde, existência e propósito de vida – paralelamente aos ambientes e artefatos que nos cercam e estruturam o nosso viver.

Ninguém estava preparado para esta situação e por isso, todos estamos tateando e aprendendo no processo, errando, reajustando, redescobrindo novas maneiras e possibilidades de se manter vivo e ativo, de estimular as vendas e adequando os discursos para manter relacionamento e reforçar vínculos com as suas redes.

Esse processo exigiu e continua a exigir, uma reinvenção. Houve o boom das lives em diferentes ferramentas (instagram, zoom, cisco, youtube, facebook, skype, google meet, etc) com debates sobre temas diversos, bem como mini-cursos e exposições de conteúdos.

Adaptar para continuar

Algumas transformações são já observadas em diferentes setores: o aumento do número de delivery de comida, quartos desocupados de hoteis transformando-se em escritório para atender à demanda de “home-office”, teleconsultas, streaming de shows ao vivo de música, lançamentos de filmes antes programados para os cinemas, desfiles de moda digitais, novas possibilidades de vendas no varejo. E com a arte, não está sendo diferente. Centros Culturais em todo o mundo, lançam editais convocando os artistas para a produção de obras digitais, para integrar a programação de eventos culturais. Eis algumas programações culturais digitais:

Circuito em Casa iniciativa do Circuito Municipal de Cultura de Belo Horizonte

Palácio em Sua Compania iniciativa da Fundação Clóvis Salgado de Belo Horizonte

Festival Cultura em Casa iniciativa da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo

Digital MAAT Mode iniciativa do MAAT em Portugal

Virtual Museum Mile iniciativa do Museum of New York City em Nova York

La Cultura ta Companya iniciativa do Instituto de Cultura de Barcelona

 

 

Aloisio Sotero, diretor acadêmico da BAEX Online, afirmou na live com o tema “Criatividade nos Negócios”:

“O maior impacto do coronavírus, é (nessa ordem): cultural, econômico, social.”

No texto do mês de junho, escrevi sobre as ameaças que a cultura brasileira está sujeita, caso não houvesse um plano de retomada para proteção da cultura nacional. Você pode ler aqui.

O artista vai aonde o povo está

A arte, considerando todas as suas linguagens de expressão, categoria que se insere no âmbito cultural dos sistemas de governo, é uma classe que ficou marginalizada, destacando as artes cênicas, formato de interação que o artista se apresenta para uma plateia que foi dispersada durante a pandemia, cada um isolado em suas casas (e os mais desajuizados que insistem em transitar pela cidade, sem qualquer opção de evento).

Com um histórico longo de esforços dos artistas em conquistarem reconhecimento como atores importantes da cadeia produtiva econômica dos municípios e estados, é uma classe  essencial, que fortalece a identidade e patriotismo de um povo e que ansia por uma “cultura democrática”, em dar lugar, vez e voz aos pequenos produtores de arte.  É através da arte que se desperta curiosidade e emoções. É na arte que se cria memória e valor cultural glocal, que faz valer a conquista da liberdade de expressão, além de ocupar um papel poderoso na formação, educação e qualidade de vida das pessoas.

Como fruto da participação e organização da sociedade civil e principalmente da iniciativa das deputadas Jandira Feghali (PCdoB) e Benedita da Silva (PT), que encabeçaram a redação do projeto de lei PL1075, nomeada Lei Aldir Blanc (em homenagem ao artista que foi vítima do Covid-19), PL que foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro dia 29/06/2020. Esse PL virou a lei 14.017 que visa implementar ações emergenciais de auxílio ao setor cultural destinando 3 bilhões de reais aos estados e municípios. Entre as ações estão uma renda emergencial de R$ 600,00 aos profissionais do setor, subsídios de R$ 3.000,00 a R$ 10.000,00 a espaços culturais, micro e pequenas empresas culturais, cooperativas, instituições e organizações culturais comunitárias que tiveram suas atividades interrompidas devido às medidas de isolamento em combate à pandemia.

Nesses momentos, não existem manuais ou tutoriais de sobrevivência. Todos estamos no mesmo mar revolto e cada um, com seus recursos possíveis criam novos processos, por vezes atropelando o ritmo “normal” na tentativa de reorganizar-se em meio ao caos sistêmico que continua a desencadear uma série de consequências.

Nesse contexto, fica clara a necessidade de ferramentas que nos auxiliem a estruturar o nosso pensamento e organizar as nossas ideias, estimulando uma solução genuinamente criativa, com agilidade e assertividade. O desafio? Adaptar-se para o digital.

Como assim, Design Thinking?

O design, sempre associado a um ofício de desenhar, criar imagens ou soluções visuais tangíveis, vem sendo ressignificado desde os anos 60, reforçando um posicionamento mais amplo da sua aplicação não somente como resultado mas como processo e abordagem.

É fruto da percepção e pesquisa de vários nomes ao redor do mundo que foram descobrindo maneiras de otimizar processos para gerar novas ideias ou melhorar as já existentes.

Isso é Design Thinking (DT)!  Seria algo como “Desenhar um pensamento”, “Pensando com design” ou ainda “forma de pensar do Designer”. Este conceito parece novo, pois está bastante em voga e, talvez se mantém atual pela liberdade dos criadores, estrategistas e designers beberem de várias fontes e apropriarem-se de ferramentas e metodologias da administração, áreas criativas, sociais e ciências da computação.

O Design Thinking, é portanto, uma fusão de abordagens que engloba processos e ferramentas interdisciplinares para desenhar soluções de forma criativa e humana.

Não precisa ser designer para aplicar o Design Thinking. Este, é uma abordagem que estimula a inovação em qualquer âmbito de trabalho que lide com a resolução de conflitos e a geração de ideias.

É útil para:

– empreendedores e profissionais que queiram participar de grupos multidisciplinares na busca de diferentes perspectivas sobre um problema;

– pessoas que queiram desenvolver uma nova competência na equipe de sua área de atuação;

– pessoas com a intenção de encontrar soluções criativas e não triviais para seus projetos;

– pessoas que se sentem, de alguma forma, “travadas” para criar soluções inovadoras em suas áreas e que precisem desbloquear a criatividade.

“Todo mundo pode – e faz – design. Todos projetamos quando planejamos para alguma coisa nova acontecer, quer seja uma nova versão de uma receita, uma nova forma de colocar os móveis da sala de estar, ou um novo tour de um site pessoal. […] Então design thinking é algo inerente dentro da cognição humana; é uma parte chave do que nos faz humanos.” Nigel Cross

Design como aceleradora de inovação para as artes

A comunidade artística é bastante diversa e usa de diferentes linguagens para produzir arte. Cada um possui o seu processo criativo próprio, muitas vezes influenciado pelas gerações passadas através de seus mestres, professores ou simplesmente por já conviver com uma rotina de produção artística ao longo da vida. Isso cria modos de pensar singulares e aqui não existe certo ou errado. Envolve, naturalmente, pesquisa, experimentação, momento esse que culmina com a fruição de ideias ainda não imaginadas mas que vão se convergindo e fluindo no processo até resultar o trabalho final.

Pensando em orientar este processo, no sentido de potencializar todos esses momentos (pesquisa, experimentação/criação, finalização), apresento abaixo uma das abordagens do Design Thinking, onde as equipes cocriam soluções para a inovação, voltada, originalmente, para produtos e serviços.

Esta ideia ousada de aplicar o Design Thinking às artes, pode parecer, à priori, um limitador. Na prática, é um recurso interessante para criar novas dinâmicas interativas entre grupos de artistas, para alimentar o repertório e portanto a criação, com referências e ideias para as artes plásticas, as artes cênicas, o artesanato, produções audiovisuais, moda, literatura, arquitetura, etc.

Seu potencial criativo se eleva quando aplicada em grupos de até 7 pessoas. Quanto maior a diversidade do background dessas pessoas, mais valor se agrega ao resultado final deste processo.

Abordagem do Duplo Diamante

O duplo diamante, é um dos frameworks mais adotados no mundo. Popularizado pelo Design Council, no Reino Unido, é uma representação esquemática que descreve as principais fases para os processos de design e inovação:

1) Descobrir – momento de pesquisa e levantamento de informações sobre o assunto. Importante buscar todas as leituras possíveis sobre o tema no sentido de ampliar o entendimento. Conheça, permita a associação livre de ideias e registre o fluxo de todas elas que saltarem à mente. Essa divergência impulsiona descobertas inesperadas.

2) Definir – etapa em que o grupo vai organizar as ideias, mapear e selecionar aquelas de maior valor.

3) Desenvolver  – a partir do material selecionado, parte-se para a etapa de co-criação. É o momento de experimentação e elaboração de soluções possíveis.

4) Entregar – o grupo chega a uma conclusão, momento de refinar a ideia para chegar a uma solução.

Nos estágios de divergência, ideias e sugestões são encorajadas para permitir que a criatividade flua, mesmo que sejam opostas ou contraditórias. Já na convergência, os integrantes do grupo devem alinhar o pensamento e priorizar as ideias de maior valor trazendo o foco necessário para se desenvolver uma solução eficiente.

Intrínseco a essas 4 fases globais que constituem o Duplo Diamante, existem 7 ações específicas que uma das instituições referência no tema no Brasil, ECHOS – Escola Design Thinking, utiliza:

  1. Entendimento: fase de desconstrução e distanciamento do desafio, do problema. É aqui onde a equipe nivela o conhecimento e destrincha os conceitos, criando perguntas para motivar a busca por informação.
  2. Pesquisa: é deixar o escritório, sair da frente do computador e vivenciar a experiência pela qual as pessoas têm com relação a um produto, serviço. É ir à campo, observar, experienciar o que as pessoas (clientes) vivenciam. É o momento de exercitar a empatia, de dar lugar ao sentir ao invés do pensar.
  3. Ponto de vista: de posse dos registros feitos até aqui e com todo o volume de informações coletadas e, naturalmente, de insights, é hora de redefinir o desafio-problema. É feito, então, uma síntese do material tendo em mente o desafio principal, que pode aqui ser redefido e melhorado.
  4. Ideação: essa é a etapa para dar asas à imaginação, sendo importante definir um prazo de tempo para que esta abstração chegue em uma convergência. Introduzir a fala com “e se…” pode soar “impossível” mas pode tornar-se possível, ao ser refinada no momento de convergência.
  5. Prototipagem: Cria-se algo, mesmo que imperfeito. O intuito é tornar a ideia tangível, materializá-la. Usam-se diversos materiais, blocos, fitas adesivas, desenhos para simular o produto/serviço, a fim de transmitir o maior número de elementos que expliquem, visualmente, o que se pretende resolver. Tenta-se aproximar ao máximo do “produto real e acabado” para causar uma sensação e, assim, ser possível realizar testes.
  6. Teste: o protótipo vai permitir validar o seu produto antes de investir recursos para sua produção. É importante apresentá-lo para clientes reais e estar atento a todo e qualquer tipo de reação, comentário e críticas. Não basta a equipe estar satisfeita com o resultado. É preciso criar uma solução que obtenha quase uma unanimidade de aprovação. Se não aprovada, volta-se no processo para avaliar e redesenhar o “produto final”. Esse movimento de validação e erro, é o que propicia experiência e aprendizado, além de diminuir os riscos do produto não ser aceito no mercado.
  7. Iteração: é o ponto de melhoria e lapidação do produto/serviço para se manter ativo e útil na vida das pessoas. A partir da ideação, fica mais claro quais etapas devem ser retomadas para se repensar soluções mais atrativas para cada cenário e contexto.

No caso dos artistas e produtores de arte, os objetivos pelos quais se cria são inúmeros. Para que o Design Thinking seja aplicável, é preciso ter um objetivo definido bem claro. Este será o ponto de partida no processo: seu desafio será criar uma obra e/ou projeto que consiga cumprir este objetivo de transmitir a “mensagem” a qual você se propõe e  à sua pergunta-problema.

Como bailarina, posso dizer que, indiretamente, este percurso de pensamento já se faz presente no processo de criação coreográfica e de espetáculos. Porém, de maneira mais intuitiva e espontânea, sem o apoio de esquemas visuais para ilustrar o processo.

Aplicação do Design Thinking nas Artes

Para exemplificar, digamos que o artista queira, através de seu trabalho, provocar uma discussão e reflexão do público sobre o sistema político brasileiro.

Devido à versatilidade do DT, é possível aplicar diferentes ferramentas em cada um dos estágios. Professores e artistas podem explorar suas prórpias técnias e dinâmicas em cada uma dessas fases. Para além delas, conheça outras ferramentas que as startups e empresas de inovação utilizam:

• brainstoming
• pesquisa exploratória,
• mapas mentais
• mapa de empatia
• blueprint
• bodystorming
• personas
• jornadas do usuário
• co-criação com clientes

• gamification
• design sprint
• matriz CSD
• visual thinking
• storyboard
• maquetes
• arte em papel
• google blocks

O quadro abaixo descreve algumas ações possíveis para exemplificar a aplicação do Duplo Diamente no processo de criação de uma obra ou linha criativa de um projeto.

Com a obra finalizada, é hora de lançar e divulgar. Muito provavelmente será um sucesso!

 

“Um designer é uma síntese emergente de um artista, inventor, mecânico, economista objetivo e estrategista evolucionário.” Buckminister Fuller (1895 – 1983)

 

 

Referências

Sansão da Lei Aldir Blanc: Observatório do Teatro

Depoimento do Eduardo Barata: O Globo

O que é Design Thinking: Ilabs Services

Duplo Diamante: Design Council e IEEP

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